Túmulo de Eurísace

Túmulo de Eurísace
Túmulo de Eurísace
Localização em relação à Porta Maggiore.
Túmulo de Eurísace
Detalhe
Informações gerais
Tipo Túmulo
Construção século I a.C.
Geografia
País Itália
Cidade Roma
Localização XV Região - Esquilino
Coordenadas

Coordenadas: 41° 53' 27" N 12° 30' 55" E

41° 53' 27" N 12° 30' 55" E
Túmulo de Eurísace está localizado em: Roma
Túmulo de Eurísace
Túmulo de Eurísace

Túmulo de Eurísace, dito o Padeiro, cujo nome completo era Marco Virgílio Eurísace, é um dos maiores e mais bem preservados monumentos funerários de homens livres em Roma, localizado no rione Esquilino. Seu friso esculpido é um exemplo clássico do "estilo plebeu" da escultura romana. Eurísace construiu o túmulo para si e, provavelmente, para sua esposa, Aristia, no final do período republicano (c. 50–20 a.C.). Situado numa posição proeminente, imediatamente fora da Porta Maggiore, o túmulo acabou sendo muito transformado ao ser incorporado na Muralha Aureliana. Uma torre foi construída no local pelo imperador Honório e cobriu o túmulo, cujos restos só foram novamente expostos quando ela foi removida pelo papa Gregório XVI em 1838.[1] Uma das características mais importantes deste monumento é o fato de ter sido construída por um liberto, ou seja, um antigo escravo alforriado.

Marco Virgílio Eurísace

Embora não exista nenhuma afirmação conclusiva no próprio monumento de que Eurísace teria sido um liberto — não há o "L" de "libertus" na inscrição — há várias razões para se acreditar que este era, de fato, o caso. Seu nome segue a convenção romana de praenomen e nomen seguido de um cognomen grego, nomenclatura típica de um liberto, combinando, como é o caso, a identidade da família proprietária com a do indivíduo enquanto era escravo. A inscrição também não traz filiação, como era usual para os nascidos livres. As atividades manuais comemoradas na inscrição, as de um padeiro, não eram geralmente celebradas pelas classes mais altas. A forma incomum do monumento e de suas inscrições também serviram para identificar Eurísace como um novo rico parvenu, um Trimálquio, com sua "ostentação inocente" que apenas imita, vulgarmente, a cultura da elite.[2][3][4]

Localização

Sepultamentos no Pomério (a fronteira sagrada da cidade) eram geralmente proibidos. Embora a extensão deste nos vários estágios da história seja incerta, acredita-se que seu trajeto coincida com a da posterior Muralha Aureliana, talvez se estendendo até a região da Porta Maggiore depois da extensão de Cláudio.[5][6] Ruas ladeadas por túmulos em posição proeminente, logo depois dos limites da cidade, são conhecidas em Pompeia e também ao longo da via Ápia.[7] O túmulo de Eurísace, no cruzamento da via Praenestina com a via Labicana, pouco antes da entrada em Roma, estava em posição particularmente proeminente e sua forma trapezoidal foi provavelmente resultado do espaço disponível no local.[8] São conhecidos outros complexos funerários na vizinhança, incluindo o columbário de Tito Estacílio Tauro, cônsul na época de Augusto, com mais de 700 loculi (nichos funerários), e o túmulo da "Societas Cantorum Graecorum" ("Sociedade de Cantores Gregos"), do século I a.C.[2]

Monumento

O túmulo, ofuscado pela construção posterior da Água Cláudia, tem aproximadamente dez metros de altura. De concreto revestido por travertino numa base de tufo, o túmulo se destaca não apenas como um monumento a Eurísace, mas à profissão dos padeiros. A incorporação dos cilindros, talvez uma referência aos rolos de amassar ou às vasilhas de medida, como sugerido acima, só reforça a associação com a fabricação de pães. É um estilo muito diferente do estilo clássico de construção de túmulos, o que acaba destacando o monumento. Foi muito depois que se descobriu que os estranhos buracos tinham o tamanho exato de uma unidade romana de cereais, o que fez com que alguns acreditassem que Eurísace estaria legando aos romanos uma função prática em seu túmulo.[9]

A porção sobrevivente da inscrição é "EST HOC MONIMENTVM MARCEI VERGILEI EVRYSACIS PISTORIS REDEMPTORIS APPARET" ("Este é o monumento de Marco Virgílio Eurísace, padeiro, contratante e servidor público").[1]

Um relevo representando os vários estágios da produção do pão decora o topo do túmulo.[10] Do lado sul estão a entrega e a moenda do trigo, assim como a peneiração da farinha; do lado norte, a mistura e o amassamento da massa para formar os pães arredondados, cozidos depois em fornos parecidos com os de pizza; e, do lado oeste, o empilhamento dos pães cozidos em cestos e o posterior pesamento.[2][8]

Descobertas

Friso sobre a fabricação de pães.
Incrição de Atistia.

Durante a demolição das fortificações medievais construídas sobre o túmulo pelo papa Gregório XVI em 1838, um relevo completo foi descoberto representando retratos de um homem e uma mulher de toga e pala, levado para Palazzo dei Conservatori (Museus Capitolinos). Junto com ele estava uma inscrição homenageando Atistia, uma boa esposa cujos restos foram colocados numa cesta de pães e uma urna na forma de uma cesta deste tipo.[2] O roubo da cabeça da escultura da mulher em 1934 e a incerteza sobre a localização atual da urna, provavelmente em algum lugar do acervo do Museo Nazionale Romano, implicam que todo o estudo moderno sobre eles está sendo atualmente conduzido com base em desenhos e fotografias primitivos das escavações.[2] Reconstruções geralmente relacionam estes itens ao túmulo com base no estilo, assunto ou local de descoberta, com "Atistia" se transformando na esposa de Eurísace e o relevo duplo, com os retratos e a inscrição, fazendo parte da porção superior, até então perdida, do túmulo.[2]

Referências

  1. a b Platner, Samuel Ball; Ashby, Thomas (1929). A Topographical Dictionary of Ancient Rome (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press. p. 479 "Sepulcrum Eurysacis". ISBN 0199256497 
  2. a b c d e f Petersen, Lauren Hackworth (2003). «The Baker, His Tomb, His Wife, and Her Breadbasket: The Monument of Eurysaces in Rome». College Art Association. The Art Bulletin (em inglês). 85 (2): 230–257. doi:10.2307/3177343 
  3. Petersen, Lauren Hackworth (2006). The Freedman in Roman Art and Art History (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. pp. 84–122. ISBN 9780521858892 
  4. Stewart, Peter (2008). The Social History of Roman Art (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. pp. 64 f. ISBN 9780521016599 
  5. Dey, Hendrik W (2011). The Aurelian Wall and the Refashioning of Imperial Rome, AD 271-855 (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. pp. 211, 209 ss. ISBN 978-0521763653 
  6. Coates-Stephens, Robert (2008). Porta Maggiore: monument and landscape: archaeology and topography of the southern Esquiline from the Late Republican period to the present (em inglês). [S.l.]: L'Erma di Bretschneider. ISBN 9788882652906 
  7. Jashemski, Wilhelmina (1971). «Tomb Gardens at Pompeii». Classical Association of the Middle West and South. The Classical Journal (em inglês). 66 (2): 97–115 
  8. a b Claridge, Amanda (1998). Rome: An Oxford Archaeological Guide (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press. pp. 359 ss. ISBN 0192880039 
  9. Strong, Anise. "Women, Slaves and Non-elites." Roman Civilizations. Northwestern University, Evanston, IL. 8 May 2007.
  10. «Sepolcro di Marco Virgilio Eurysace» (em inglês). Sovraintendenza ai Beni Culturali. Consultado em 23 de abril de 2012 

Bibliografia

  • Ciancio Rossetto, Paola (1973). Il sepolcro del fornaio Marco Virgilio Eurisace a Porta Maggiore (em inglês). Roma: Istituto di Studi Romani. ISBN 9788873110675 

Ligações externas

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Túmulo de Eurísace
  • «The Baker's Tomb» (em inglês). Rome Art Lover 
  • «Sepolcro di Marco Virgilio Eurysace» (em italiano). Sovraintendenza Roma 
  • «Sepolcro di Eurisace» (em italiano). Roma Sparita  (fotos antigas)
  • «Sepolcro di Eurisace» (em neerlandês). Annas Rom Guide